Depoimento do Filho Pródigo

By | 7 de setembro de 2020

Maximo Ribera
A força da Palavra Crística muitas vezes nos tira a coragem de interpretá-la. Foi o que me aconteceu diante da parábola do Filho Pródigo. Imediatamente lembrei de Luiz Goulart, que transformava em poesia os mais intrincados temas e abria nosso entendimento através do coração. Se com ele aprendi, ele me inspirou:

Na casa do meu Pai eu vivia
Curioso com as histórias dos anciãos
Sobre o viver na terra de poeira e sementes,
De flores sólidas, mas perfumadas,
De seres alados, não anjos, mas pássaros;
De estrelas que se consomem nas cinzas,
De criaturas densas, mas angelicais
Que amamentam seus filhos
Em seus corpos.

Desenhou-se em minhas fantasias
Um mundo de encantamento
Oculto no vale das sombras
E eu só poderia conhecê-lo
Se descesse até lá.

Supliquei muitas vezes a meu Pai:
“Senhor, dá-me um corpo de carne
Para eu conhecer tua fazenda
De matéria densa.”

Um infinito de tempo se passou,
Até que meu Pai me chamou e disse,
Num sussurro, a voz embargada:
“Tua vontade te preparou, estás pronto.
Desce, meu filho, tu podes, eu não.
Embora seja grande o meu receio
De perder-te, pois vais ao reino da morte,
Vai! Teu coração quer se expandir
Além do próprio infinito
E isso só é possível se conheceres o finito.
Mas não deixes que se apague
A centelha que nos alimenta
Aqui e lá.
Mantém-te vivo, eu te imploro,
Para onde vais, estarás entregue
À minha Lei imutável que mantém
O equilíbrio de tudo que criei.
Não poderei interceder por ti,
Se a transgredires.”
Assim se cumpriu meu destino.
Desci e me descobri sozinho,
Uma estranha saudade foi minha
Inseparável companheira.
Meus corpos se renovaram muitas vezes.
Muito aprendi através deles,
E, apesar de eles se envolverem
Excessivamente com a matéria densa,
Fiquei maravilhado
Ao descobrir na própria Terra
Uma luminosa extensão
Da casa do meu Pai.
Até que nada mais me interessou.
Os tesouros que conquistei
Não me serviram mais.
Então meu Pai atendeu ao meu chamado
E aqui estou, no círculo dos anciãos,
Contando minha gloriosa história.

Obs.: Quando um ancião me perguntou se me desliguei totalmente da Terra, respondi que não é possível, pois semeei com a centelha, herança do meu Pai, escadarias para os seres humanos ascenderem à nossa morada. Chamam-se: Fraternidade, amor, fé, altruísmo, compaixão, e tantos outros nomes, mas a maior escadaria, que mantém os seres humanos sonhando com a casa do Pai, chama-se Esperança.

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