Moisés

MOISES_2(1380 a. C.) Moisés é enigmático quanto a sua personalidade. Havendo mesmo uma corrente de historiadores que o definem como uma “figura mítica”, ou seja, consagrada mitologicamente pelos místicos hebreus. Fato que não causa admiração, pois o criticismo histórico de uma escola de pesquisadores nos dá como míticos ou inexistentes não só Moisés, como também Homero, Zoroastro, Buddha e Jesus Cristo. Quando este conceito negativista chega a pulverizar no nada as figuras de Maomé, Omar Khayyãm e até Shakespeare, em face de seu exagero, somos forçados a admitir que a tal escola negativista possui uma espécie de sadismo anti-heróico. Talvez se pudessem, os senhores da referida escola, queimariam todas as obras que digam respeito aos luminares mais antigos da raça humana. Não somos pois defensores dessas absurdas teses.

Cremos, no entanto, que todos os Grandes Seres do passado e mesmo do presente podem comportar uma dupla feição: mítica e histórica. Mítica quanto à subjetividade de seus feitos tantas vezes acima da compreensão medíocre de seus contemporâneos; histórica, relativa á veracidade de sua presença física no tempo e no espaço.

O Egito, Pai espiritual da Humanidade e Terra misteriosa das Primeiras Grandes Escolas Iniciáticas da Sabedoria Secreta, foi o berço material e essencial-anímico do Guia Hebreu que de modo esotérico recebeu o nome de Moisés.

Etimologicamente, Moisés já, por si, aproxima-se das doutrinas prezadas pelo sacerdócio faraônico. Logo, no primeiro degrau da Iniciação ligada a Ísis, foi denominado Mo-Isés. Na linguagem secreta mo significa água e isés, salvado. Embora se encontre igualmente no egípcio mx ou mo designando criança, nome reduzido de uma síntese de expressão que se traduziria “salvo das águas” (ou batizado) em nome da referida divindade (Ísis ou Issa) que se tornou deusa da Vida, ligada à água. Daí em suas mãos ela trazer não só a cruz ansata, mas também um lótus, flor consagrada ao Nilo.

Quanto à palavra criança (mx) o sentido é mais profundo. Não era necessário ser um menino para atingir o primeiro degrau da iniciação (ou batismo). A idade não era fator de exigência pelos sacerdotes. Jesus, ao falar aos adultos, afirmava que é necessário fazer-se pequenino (ou criança), para atingir o reino dos céus. Quer dizer, tornar-se ou ser puro como uma criança.

Talvez sob o véu místico ou simbólico ou até realmente como fato acontecido (quem sabe?) surge a expressão “salvo das águas”. Neste sentido diz-se que um faraó, provavelmente Ramsés II, ordenou a morte de todos os filhos machos dos hebreus cativos nas terras de Chemi (ou Egito). Nascido o menino _ que se chamaria Moisés _ foi posto por sua mãe numa arca de juncos betumada e deixada nas águas do Nilo. A criança foi recolhida e salva pela filha do faraó, que o adotou como seu filho.

E assim nasceu (1380 a.C.),viveu e iluminou-se na idade adulta o “filho de criação” da princesa egípcia. Voltando a mostrar a ligação esotérica de Moisés à Água e Ísis, é interessante assinalar que esta divindade estava igualmente relacionada à Lua. O que nos faz crer que Miguelângelo foi bem informado quando colocou as pontas do satélite da Terra na cabeça do grande Legislador Hebreu.

Tem-se como certo que Moisés chegou a ser um sacerdote templário, detentor de todos os conhecimentos retidos nos “Mistérios dos Mistérios”, ou seja, aqueles que só os iniciados nos mais altos graus podiam conhecer. Foi ele, portanto, ligado aos segredas da “Grande Pirâmide”, onde eram reveladas as medidas canônicas das proporções entre o cosmos e a Terra. Sem esquecer a revelação que certamente recebeu quanto ao mistério da verdadeira Divindade, que podia ser encontrada no interior Do Homem. Evidentemente se este, por seus méritos, conseguisse sua auto-realização espiritual.

Na a idade de quarenta anos, como aconteceu com os grandes místicos em geral, Moisés isolou-se num deserto. Por essa época certamente já completara sua iniciação no Templo dos Mistérios egípcios. Ali, apartado de tudo e de todos, teve diante de seus olhos espirituais uma aparição: Deus mostrou-se sob a forma de uma “sarça ardente”, ordenando-lhe que libertasse o seu povo (os hebreus) da escravidão e o conduzisse do Egito à Palestina. Desse modo o iniciou-se o Êxodo.

Eximimo-nos de muitos fatos, talvez lendários, para melhor focalizar o critério místico-religioso do supremo Guia e Libertador da raça israelita. Logo nos depara o seu dogma da unidade de Deus, influência, por certo, que recebera da teologia egípcia monoteísta ensinada por Akhenaton, aproximadamente um século antes do surgimento de Moisés. Pois a finalidade deste era trazer seu povo afastado do politeísmo idólatra. Igualmente possui fundamento egípcio a distinção que ele fez entre o corpo e a alma, bem como a crença na vida futura. Os dez mandamentos promulgados no Sinai, segundo alguns sábios, formam a síntese dos preceitos básicos da moral dos iniciados no Templo da Grande Pirâmide.

A saída de Moisés do Egito não foi meramente uma fuga espetacular. A verdadeira Ciência perdia-se nas terras faraônicas. O sacerdócio, descuidado da educação do povo, deixava-o mergulhado na idolatria tantas vezes fantasiosa. Salvar as santas tradições iniciáticas deixadas outrora por Thot era o objetivo sublime do “salvo das águas”. Dai Moisés conduzir na “fuga” não só o que detivera em sua memória prodigiosa, mas também os célebres “vasos sagrados” dos egípcios onde, em hieróglifos, estavam as fórmulas da verdadeira ciência que se transformaria na cabala secreta dos iniciados hebreus.

Quis o Guia sábio dar a seus seguidores os princípios herméticos revestidos de símbolos que não permitissem corromper o Mistério dos Mistérios. Daí o povo hebreu reverenciar símbolos (e não imagens antropomórficas) que tomam as formas poligonais, básicas (após Moisés) das Estrelas de Davi e de Salomão e do inefável menorá ou candelabro de 7 chamas… Não foi sua culpa que, junto à herança sagrada transladada do Egito para a Palestina, muitas divindades populares relativas à idolatria do povo egípcio servissem de base a hebreus de curta visão quanto ao espírito de seu Pensamento Esotérico.

Razão tem, pois, H. P. Blavatsky ao dizer: “Não desejando ver o seu povo eleito – eleito por ele – incidir na grosseira idolatria da massa profana que o rodeava, valeu-se Moisés dos seus conhecimentos cosmogônicos da Pirâmide para sobre eles basear a cosmogonia do Gênesis, mediante alegorias e símbolos…” Mais adiante, prossegue a autora em sua Doutrina Secreta:…”Sobre o Monte Sinai, quando se comunicava com o seu Deus pessoal, com o seu divino Eu, Moisés compreendeu o gravíssimo risco de confiar semelhantes verdades (adquiridas na iniciação egípcia, dizemos nós) ao egoísmo das multidões…”

Quanto a sua figura humana, foi Moisés o maior vulto do Velho Testamento. Ao mesmo tempo, manifestou-se como estadista e guerreiro, moralista e legislador, sem esquecer o poeta no seu modo de sentir e escrever… Sua própria morte transcende a vulgaridade: sua última visão foi, do monte Nebo, contemplar a terra de Caná que Deus e ele ofereceram como solo sagrado para os hebreus.