Zarathustra

ZARATU_2(10.000 a. C.) Há cerca de dez mil anos a. C. surgiu, no oriente, um ser chamado Zarathustra, que influiu fortemente sobre a religiosidade dos povos do Levante. Seu nome para os gregos era Zoroastro. Sua doutrina tomou nomes diversos: Mazdeísmo, Magismo, Parsismo, culto ao Fogo e zoroastrismo. Este último nome deve-se a Zoroastro – pois assim foram chamados os grandes sacerdotes que sucessivamente ocuparam o lugar de preservadores da doutrina ensinada por Zarathustra, o supremo legislador.

Sobre o período certo do nascimento deste enigmático Guia espiritual apresentam-se questões curiosas. Aristóteles e Eudóxio assinalam sua presença na Terra na data de seis mil anos antes de Platão. Outros marcam a existência do misterioso legislador antes da Guerra de Tróia, no mínimo acontecida dez mil anos antes de Cristo. Daí fixarmos este período como o mais provável quanto á atuação mística do Profeta do Mazdeísmo.

Zarathustra é o autor do Avesta ou seja “A Lei”. Convém destacar que o Avesta é chamado comumente de Zend-Avesta. Isto por ignorar-se que zend significa “comentário”. Entende-se então o Zend-Avesta como o “Comentário da Lei”.

O Irã, antiga Pérsia, é o berço do nascimento de Zarathustra e sua doutrina. Para alguns autores teriam existido dois Zarathustras, ou seja, dois reveladores, “um filho de Oromaso e pai de um documento valioso, e o outro filho de Arimã e autor de uma divulgação profana.”

Diz ELiphas Levi que Zarathustra é o verbo encarnado dos caldeus, dos medas e dos persas. Lendariamente, lembrando Cristo, ele devia ter também seu Anticristo – que outro não seria senão o Zarathustra filho de Arimã, que significa o senhor do Mal e das Trevas.

Diz ainda o referido autor que é ao falso Zarathustra que se deve atribuir o culto do fogo material. De fato, os adoradores do fogo em seu aspecto concreto jamais poderiam ver neste elemento ígneo apenas o símbolo transcendente e metafísico pregado por quem encarnou o verbo Divino, ou seja, como um dos primeiros manifestantes de Deus, antes de Cristo.

Sem perda de tempo, voltemos nossa atenção para a doutrina revelada por Zarathustra, e recordada por todos os Zoroastros ou sacerdotes que a ensinaram durante milênios. Não deixemos de assinalar que os últimos Zoroastros, esquecendo a metafísica zarathustriana, geraram uma teologia que motivou a ritualística do culto direto ao fogo material. Fato este que sempre acontece quando o espírito de uma doutrina desce do plano puramente místico para a vulgaridade da fé somente nos ofícios religiosos.

A teologia zarathustriana em ternos metafísicos interpretada esotericamente por sábios iniciados, não deixa de merecer que a conheçamos. Assim sendo, segundo o Avesta, o Eterno ou Aquele, o Indefinível, teve um filho Primogênito chamado Ormuzd ou Ahura-Mazdâ, simbolizado pelo Sol por ser julgado a Luz das luzes, literalmente significa Grande Rei e expressa o Princípio do Bem.

Ahura-Mazdâ possui a sombra de si mesmo – Ahriman, Senhor dos Espíritos malignos, também conhecido como Angra Mainyu procedente do Zernâna Âkerna, o círculo ilimitado do Tempo.

Ahura-Mazdâ é considerado a síntese dos Amschas-pands, ou seja, os seis Anjos ou Forças divinas personificadas como deuses. Ahura-Mazdâ, contendo as referidas seis forças, é tido como a sétima Potência.

Alguns autores dão Ormuzd e Ahriman como irmãos. Dizem estes autores que, no início da Criação, Ormuzd de Ahriman Possuíam a mesma pureza e elevação espiritual; mas este, levado pela ambição e vaidade, tornou-se o deus da Maldade. Daí ser Ahriman condenado pelo Senhor da Eternidade a viver doze mil anos na região das Trevas sem Fim.

Mesmo condenado às Trevas, o deus do mal não perdeu o Poder criador que Ormuzd recebera do Eterno. Desse modo, enquanto o deus do Bem pôde gerar Espíritos de Luz e bondade, o deus do Mal não perdeu tempo em criar Espíritos de sombra crueldade, fatores de toda dor e miséria que até hoje avassalam a humanidade sob desesperos que motivam o crime, a revolta e o pecado.

Segundo o Avesta esta luta dualística entre os poderes de Ohmuzd e Ahriman durará doze mil anos, até que Ahura Mazda seja vencedor, o que deve acontecer, segundo certos cálculos mágicos, em meados do terceiro milênio de nossa Era.

Ohmuzd, entre os Amschas-pands, criou uma divindade chamada Mithra, que representa a Verdade e a Fidelidade. Diz-se também que Ormuzd é o pai de Atar – gerador do Fogo. Atar encontra na Terra Anahita, divindade que tem sua expressão na Água. Do encontro de Atar e Anahita surge a Vida.

Os mazdeístas cultuavam os vegetais de cujos lenhos extraíam o fogo, sendo a mais importante Haoma a figueira, tida como a Árvore sagrada; de seus frutos diziam obter o sumo que afugentava a Morte.

Em seu aspecto religioso, mas assim mesmo simbólico, o Mazdeísmo tinha como principal culto o Fogo, no seguinte ritual: O sacerdote, no meio de um circulo formado de homens e mulheres, friccionava uma haste vertical, extraída da Árvore sagrada, no orifício de u’a madeira colocada horizontalmente no solo. No referido orifício, o religioso derramava manteiga clarificada. Após demorada fricção da haste vertical surgia o Fogo, Para os fiéis considerado expressão da Luz e da Vida que retornava ao coração do Sol – Agni – o Fogo do Espaço. Não pode ser esquecido que, durante o ritual, a haste vertical expressava Atar, o poder positivo, masculino; e a haste horizontal, Anahita, a passividade feminina ou a Água.

Quanto à Ética, os seguidores de Zarathustra, segundo o Avesta, lutam primeiro consigo mesmos, a fim de seu Eu luminoso, ligado a Ohmuzd, vencer o ego sombrio, ligado Ahriman. As principais virtudes do ser humano são: a retidão quanto aos princípios sagrados, e a felicidade interior nascida dos atos de bondade.

A Ética mazdeísta condena todo ato contra a Natureza, entre os quais são incluídos o adultério e o homossexualismo. É ressaltado o respeito não só aos semelhantes como também às plantas e aos animais, os quais, primitivamente, muitos eram tidos como sagrados. Dentro desses conceitos primitivos era proibido tocar nos cadáveres… talvez por sua aceitação de que a morte estava ligada a Ahriman e não a Ormuzd, que expressa a Vida.

Quanto à alma, o Avesta reconhece sua sobrevivência. Três dias após a morte, ela flutua em volta do cadáver num estado de inconsciência, sem saber que rumo deve seguir. Após este tempo, por vezes mais demorado para muitos falecidos, é chamada por certos agentes espirituais, cuja missão é conduzi-la, livre da atração corpórea, ao tribunal formado por Mithra, Sraosh e Rashun. Após a alma ser pesada é conduzida à Grande Ponte Oinvat onde, no final, a esperam dois deuses ou anjos, ou seja, um representante de Ormuzd e outra, de Ahriman. Se foi virtuosa, acompanha-a o representante do Bem; se pecadora, é precipitada no abismo infernal pelo representante da sombra. Segundo se deduz, o Avesta admite a reencarnação.

Um dos pontos surpreendentes da doutrina mazdeísta está no seu aspecto profético: antes do término do terceiro milênio, todos os mortos renascerão para presenciar o Juízo Final. Então, uma espécie de chuva de metal derretido cobrirá a Terra. Os maus serão destruídos sob a terrível chuva… Ahriman perecerá para sempre arrastando ao nada o Reino do Mal. A Virtude, a Paz e o Amor Universal brilharão sob a Luz de Agni, abrindo as portas da Idade de Ouro para a felicidade do Homem e de todos os reinos naturais da Terra.

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