Krishna

KRISHN_2(5.000 a. C.) Nenhuma das grandes figuras místicas do oriente apresenta tão forte semelhança com Jesus quanto o sempre venerável Krishna (ou Krichna, traduzível como Negro). Considerado Avatar (ou encarnação) de Vishnu, o “Salvador”, ele foi filho de Devaki e sobrinho de Kansa (que Blavatsky compara ao rei Herodes bíblico) que mandou buscar entre os pastores suas crianças, matando aos milhares as recém-nascidas.

Em sentido geral, o relato biográfico da maneira como Krishna foi concebido, bem como o seu nascimento e o transcorrer de sua infância possui bastante similitude com a descrição dos Evangelhos, referentemente a Jesus Cristo. Krishna era filho de Vasudeva e da virgem Devaki e primo de Arjuna (o São João hindu). Ainda dentro do paralelismo cristão, para escapar à perseguição imposta por Kansa, Krishna, recém-nascido, é conduzido secretamente por seus pais a uma família de pastores que vivia incognitamente para lá das margens opostas do rio Yamunâ.

Ainda misteriosamente antecipando os atos do Nazareno, Krishna, embora menino, ensinava as doutrinas sagradas ao povo. Adulto, curava doentes mediante passes magnéticos e expulsava demônios dos transtornados. Nem no término de sua vida o Grande Mestre hindu deixa de assemelhar-se a Jesus: é preso a uma árvore e tem seu corpo transpassado por uma flecha.

Os fatos similares acontecidos na vida de Krishna e de Jesus encontram controvérsias de interpretação nos conceitos de autores voltados para os temas religiosos e históricos: alguns admitem que a tradição hindu insere os fatos relatados no Cristianismo ao contexto oriental; outros acham que, ao contrário, é o Cristianismo que adota as narrações relativas a Krishna na biografia de Cristo.

Há porém uma terceira posição ante as duas suposições acima expostas; quer dizer, a grandeza da Força Espiritual pode motivar efeitos e fatos semelhantes, assim como duas Estrelas diferentes emitem luzes idênticas. Essa Força Espiritual pode também imprimir identificação ao meio e à forma de Grandes Seres, como Krishna e Cristo, objetivando-se dentro das mesmas medidas estabelecidas pelo Milagre do Espaço que suplanta o limite histórico dos tempos, não importando que a existência de Krishna tenha precedido de 5.000 anos a vinda de Jesus Cristo. Ante os olhos do Senhor do Cosmos tudo pode acontecer.

Para os sábios orientais, foi exatamente cinco mil anos após a morte de Krishna que teve início a Kali-Yuga ou Idade Negra, também chamada de Idade do Ferro. Alguns mestres emprestam a esta Idade Negra o longo período, no qual ainda estamos, da perda da Justiça, da Paz e do Amor no seio da Humanidade.

Como os cristãos, relativamente à volta do Cristo, os hindus admitem que, terminada a Idade Negra ou Kali-Yaga, Krishna ressurgirá para inaugurar uma Era de Luz e Justiça, encerrando o período trevoso do mundo.

Em realidade, fora inúmeros fatos relativos à existência terrena do Avatar de Vishnú, é no Bhagavad-Gîtâ que Krishna toma a representação da Divindade Suprema, cuja missão foi descer a nosso planeta com Âtman ou Espírito Imortal para iluminar e salvar a Humanidade. Daí, como Jesus, ser ele chamado também de Salvador.

O fato é que não se pode admirar o valor divino desse Manifestante do Altíssimo sem o estudo do Bhagavad-Gîtâ, nem compreender esta obra sem mencionar o Mahâbhârata, do qual é um fragmento ou seção básica relativa à didática do Hinduísmo.

O Mahâbhârata, teve-se sua tradução direta do sânscrito somente neste nosso século. Principalmente a parte atinente ao Bhagavad-Gîtâ, só em 1910 foi traduzida em língua espanhola pelo eminente sábio Roviralta Borrel. Não se pode esquecer a versão feita por Gandhi para o gujarati, seu idioma materno, e posteriormente para o inglês. Havendo no entanto o Mahatma adaptado o referido poema épico a seus princípios doutrinários. Chega mesmo a dizer, justificando-se: “Como o homem, o significado das obras se transforma. Ao examinar a história da linguagem, vemos que o significado das palavras essenciais mudou e se expandiu. Isto sucede com o Gîtâ.”

Quanto à origem do Mahâbhârata, acredita-se que este poema hindu, comparável na feitura poética à Ilíada, de Homero, foi composto por Vyâsa, que literalmente quer dizer aquele que desenrola ou investiga, destrincha, e também amplia ou disserta. Melhor dito, o que interpreta e revela um mistério. Em tempos mais antigos houve muitos Vyâsas na Àryâvarta (nome remoto e esotérico da Índia). É pois plausível que o Mahâbhârata seja uma compilação feita por um desses sábios Vyâsas, no afã de juntar ao grande poema de 220.000 versos (o maior em todo o mundo) as lendas, as tradições e as figuras mitológicas desse povo oriental, o mais rico de imagens míticas, místicas e transcendentais. É precisamente este monumento literário que revela e destaca, perante a admiração e a fé, a inefável imagem de Krishna, para sempre louvada e venerada pela alma humana.

O Bhagavad-Gîtâ, que toma a fiqura de Krishna como seu herói, é obra profundamente simbólica, cujo mister é levar o homem a lutar com seu ego ligado à treva de perigosas paixões.

Possuído de impecávei sugestão literária, esta obra sintetiza em seus versos, na batalha de Kurú, a interminável luta entre o bem e o mal _ mormente no que diz respeito ao conflito travado no interior do próprio indivíduo, expresso no desafio guerreiro entre Kuravas e Pândavas.

O saudoso sábio brasileiro Edmundo Cardillo escreve, com grande felicidade, no prefácio do Bagavad-Gîtâ para Editora Três: “Graficamente, o jogo de xadrez com suas peças brancas e negras, traduz o campo de Kurukshetra, onde o peão avança paulatinamente por transformar-se – ganhando a oitava casa – numa peça do valor mais alto, mais sujeito nos seus passos a duras investidas.”

O Bagavad-Gîtâ – Canto do Senhor – é livro de cabeceira de milhões de criaturas, no Oriente e no Ocidente. Logicamente criaturas iluminadas pela Sabedoria Esotérica e integradas nos mistérios revelados pelo sublime e enigmático texto. Pois é nesta obra que Krishna descerra toda sua magnitude, estabelecendo seu diálogo com Arjuna, pelo divino ser auxiliado em sua dura peleja. É logo mostrado o drama da consciência gritante no guerreiro (que, de fato, representa cada um de nós mortais, em nossas dúvidas humanas).

Arjuna pergunta: “…como poderei combater contra Bhîna e Drôna, se, entre todos os homens, eles são os mais dignos de meu respeito?” De imediato Krishna aproveita a dúvida do guerreiro-discípulo para abrir um tema que supera os conflitos d’alma. Fala-lhe da futilidade da existência humana e da imortalidade do espírito. Importa pois que lute dignamente.

Durante o transcorrer da grande batalha (que na realidade é a própria existência humana) Krishna (o Mestre) ensina os princípios básicos da ligação com o Eu Divino através da Yoga e da verdadeira ética baseada em nobres ações e desprendimento dos vãos desejos. Em sua preleção não deixa de lembrar os segredos da reencarnação.

Não se trata pois de uma obra restrita ao campo guerreiro, militar, onde matar e morrer são opções da fatalidade. Não. A batalha cruel é o mundo kármico em que vivemos. É precisamente neste mundo de dualismo e contradições que Krishna, em diálogo com Arjuna, deixa rolarem as pérolas da Sabedoria que advertem o discípulo que nem tudo é terra, sangue e sofrimento. Pois em meio às contendas a paz se torna aureolada de Amor quando o Senhor diz, com suavidade:

“Fixa tua mente em mim, penetra em mim o teu entendimento porque, sem dúvida alguma, após a morte, viverás em mim nas Alturas.”

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