Imagem e Símbolo

  1. Distinguimos nitidamente a Imagem da Criação. Percebe-se uma espécie de moral relativa à imagem que nossa personalidade deve manter como aparência que expresse poder – gerando até destaque e sedução. Pois a Personalidade, para manter a imagem que sobre si mesma cria, não apenas imagina ou exerce domínio: não se importa em atemorizar, nem mesmo em despertar inveja ou ciúme.
  2. Há uma Imaginação ativista, própria do instinto – como existe a Inação Criadora, própria da Consciência Superior, por isto ligada à Intuição. Para esta, a imagem desaparece – dando lugar ao símbolo.
  3. Jesus nos mostra o lírio, como expressão simbólica do desprendimento – e Salomão, como expressão da imagem. Tendo em vista o lírio, apresentado por Jesus, podemos nos valer de nosso livro Átomo Vital: “Temos como certo que o Sentimento se vale da Natureza: o Sentimento colhe em a Natureza símbolos que conduzem ao Pensamento-Sentimento, por conter imagens retratadoras do processo íntimo do sistema energético do Ser.”
  4. De fato, o lírio, visto sem os olhos de ver (subjetivamente), é apenas uma imagem. Mas quando criamos, toda imagem pode se transformar em símbolo. A montanha é uma imagem até o dia em que nela descobrimos o símbolo de ascensão moral ou espiritual. O que é a fonte, senão uma imagem, sem que lhe emprestemos criativamente o atributo de símbolo da Vida?
  5. Quando o Sentir (meio emanante da Intuição) se estende ao objeto sentido, emprestamos à imagem atributos geométricos. Só assim tornamos de fato em símbolos (interiores) aquilo que víamos como imagens (exteriores). A linguagem intuitiva é, portanto, simbólica. A linguagem racional é moldada em meio imaginativo, numa tentativa de suplantar o impulso instintivo.
  6. O instinto de conservação pode modelar em contornos imprecisos, mas mal delineados na treva – assim como no fundo das pinturas de Rembrandt – onde temos que imaginar o que ali se passa, misteriosamente. A imagem é aquilo que ainda espera o entendimento direto de nossa Intuição. O entendimento nos vem quando tudo conduzimos às funções subjetivas pelo Sentimento. Por isso só entendemos aquilo que venha a ser parte da integração do Sentir e Pensar. Só é conhecido, em sua plenitude, o que nossa Autoconsciência gera, como símbolo. Nossa autoconsciência, sempre preenchida de Amor, é síntese perfeita do Pensar-Sentir em toda a sua grandeza.
  7. O homem, perdido em uma grande cidade, caminha como por entre fantasmas nascidos da imagem da multidão. Se de repente encontra um ser que ama, então traduz seus sentimentos, sente a alegria do abraço ou do beijo, como se reencontrasse a si mesmo. Nesse momento vemos que a criatura amada, perdida como imagem na multidão, foi reconhecida como símbolo redescoberto pelo Sentimento. Cada vez que encontramos quem amamos, nos reintegramos em nós mesmos. A saudade é, portanto, a extensão do Pensar-Sentir. Uma necessidade imperiosa de mostrarmos a nós mesmos nossos símbolos interiores, espelhando-nos na imagem de quem amamos, cuja expressão nos mostrará mais que uma figura física, mas refletirá o nosso próprio interior.
  8. Momentos gloriosos quando Imagem e Símbolo formam um todo fulgurante. Natureza e Deus vistos pelo Sentimento, como Unidade. Não é outro o sentido que os místicos orientais, como Yogananda, emprestam à ideia de ver e sentir Deus em tudo e em todos. O mesmo toque da Vida descobrimos na Existência em Francisco de Assis, quando de sua irmanação com as coisas, animais, astros, homens e tudo mais, num todo de Amor.
  9. Nestes estudos, tivemos a sensação de que a palavra de Jesus foi equivalente à voz interior de nossa Consciência, aconselhando-nos a nos desprendermos das imagens que sabemos desastrosas à nossa felicidade. Só a simplicidade pode propiciar a liberdade interior e que quanto mais nos tornarmos comprometidos com a consciência do mundo, menos somos nós mesmos.
  10. Como o maior bem de que dispõe o ser humano é o Amor, compreendido como equilíbrio criador do Pensar-Sentir – toda sobrecarga exterior, demonstrativa, nos tira de nós mesmos. É quando, então, perdidos no mundo da heterogeneidade, buscamos a homogeneidade, pela identificação mística entre os símbolos interiores de nossa Autoconsciência e os símbolos que, embora revelados, de início, sob a roupagem de imagens exteriores, se identificam conosco. É mister da Intuição desnudar muitas imagens, para nos mostrar os símbolos ocultos que nem sempre logo descobrimos pelos sentidos físicos ligados ao instinto.