Platão

Platao(429–347 a. C.) No mesmo ano em que morre Péricles nasceu Platão em Egina, próximo de Atenas. Seu verdadeiro nome era Arístocles. Porém foi imortalizado com o nome de Platão (largo, amplo). Em termos místicos, sua iniciação se prende aos sábios que o Antecederam e que certamente estavam ligados aos filamentos finais e luminosos dos mistérios egipcíacos. Discípulo direto de Sócrates, empenhou-se em freqüentar a escola de Megara, na qual pontificava Euclides. De retorno de longas viagens, inclusive ao próprio Egito, funda nos jardins de Academo a sua célebre academia – onde expande seus ensinamentos, por vezes interrompido por seu velho hábito de viajar. Foi num de seus regressos a Atenas que ali morreu, com 82 anos de idade, em 347 a.C.

A obra de Platão é vastíssima. Embora tendo-se perdido muitos dos textos do mestre, tornaram-se conhecidos os diálogos: Apologia de Sócrates , Criton, Fédon (estudados como diálogos socráticos), Teetetos, Filebo, Sofista, Parmênides , Timeu (diálogos metafísicos), Fedro, O Banquete (diálogos estéticos), A República, As Leis (diálogos políticos).

A grande força mística de Platão está declarada em toda a sua obra, mas, com grande ênfase, em seu interesse pela definição da alma. “Será a alma imortal?”, pergunta Sócrates a Cebes. “É”, responde este com decisão, “toda alma é imortal.”

Tanto no Fédon como no Fedro, Platão aborda o assunto da imortalidade da alma. Igualmente o mesmo tema está colocado na República: “É evidente que a alma tem que existir sempre. Ora, se existe sempre, é imortal.” Nas Leis, a última obra do mestre; o problema é abordado com clareza: “Aquilo que constitui verdadeiramente o nosso ser, isto é, a alma, é imortal.

É no Fédon porém que com mais veemência Platão destaca a imortalidade da alma. Esta veemência chegou a impressionar tão fortemente, no passado, certas criaturas (como Cleômbroto e Catão de Útica) a ponto de elas desprezarem a existência física, colocando o corpo como totalmente destituído de valor. Platão, no entanto, jamais induziu alguém ao desprezo da existência. Pois ele encontrava na forma humana motivo de beleza divina. Ele mesmo deu exemplo do cultivo dessa forma, já que antes fora atleta e atingiu, como vimos, uma idade avançada. Platão morre mesmo em plena felicidade, exatamente no dia de seu aniversário, num banquete nupcial cuja data fora marcada em sua homenagem para unir um discípulo e uma discípula. Esta, embora podendo ser sua neta, inspirou-lhe uma como que afetividade olímpica.

Para o mestre a imortalidade da alma não anula efeitos diferenciados causados por esta mesma imortalidade, pois sua filosofia parece muitas vezes ligar-se à concepção hindu do âkâsha (plano de vibrações onde todos os efeitos da alma são retidos). Há pois efeitos desastrosos que, herdados, motivam. grandes tragédias. Como há efeitos luminosos que por herança desenvolvem no ser humano atos meritórios. Desse modo, platonicamente falando, embora sentindo a alma imortal, é melhor não abandonar ou destruir nosso corpo, mas sim aproveitá-lo a serviço de nobres causas. Platão situa as almas em planos diferentes.

Lemos na República:”Quem desejar conhecer como é verdadeiramente a alma, não a deve considerar quando afeada pela união com o corpo ou manchada por outros males, como nós a vemos agora, mas deve discernir, diligente, por meio da razão, como ela é (em essência), quase pura e então encontrá-la muito mais bela.”

Evidentemente a alma, presa aos desejos do corpo, adota planos diferenciados, a fim de não se submeter integralmente à parte inferior ou animal que a criatura humana já possui em si mesma.

Para Platão, como lemos no Filebo, a alma humana em toda a sua magnitude provém da alma do Universo. Há portanto uma unicidade essencial da alma platônica, sujeita porém a modificações segundo contatos diferentes provindos dos efeitos de certas ações e pensamentos humanos. Poderíamos, dizer que a alma platônica é como originariamente o líquido puro e transparente colhido numa fonte imaculada, mas que sofre o efeito de coloridos de tons luminosos ou sombrios, segundo o corpo que a absorve.

Vejamos este trecho do Fedro: “A alma assemelha-se a um composto natural de dois cavalos alados e de um cocheiro. Nas almas dos deuses, cavalos e cocheiros todos são bons e de boa raça. Nas outras, estão misturados. Em nós, o condutor sustenta as rédeas: um dos cavalos é bom, belo de boa raça; o outro é de raça contrária. Por isso o ofício do cocheiro a nosso respeito torna-se inevitavelmente difícil e penoso… Todas as almas têm a seu cuidado o ser inanimado; percorrem a imensidade do espaço assumindo diversas formas.”

Para terminar, curvando a fronte, Platão em termos de Filosofia foi um deus que revelou o mistério desta essência sutilíssima que, além de animar nosso corpo, com seu pensamento deu vida ao reino da Idéia que habita nosso cérebro. Ele é bem o que diz, ainda na obra acima citada: “A alma perfeita, bem guarnecida de asas, paira nas alturas; de lá dirige o Universo…”

Platão continua sendo e será sempre parte dessa alma que anima e animará a filosofia mística inserida no pensamento universal.

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