O Inativismo em Jesus

Resumos das pesquisas realizadas pelo Grupo de Estudos Professor Luiz Goulart em suas obras, na sede da Corrente da Paz Universal, sob a coordenação da professora Lucia Magalhães.

OS TESOUROS

1 – Se seguíssemos atentamente os princípios de Jesus, veríamos que ele, como todo pensador inativista, clamava pela diminuição de atividade externa – meio de dissociar o indivíduo da angústia dominante contraída nos problemas externos, junto ao agir excessivo do mundo.  Na verdade, nosso instinto, desligado da Autoconsciência, não faz muita diferença dos elementos naturais incontroláveis…Faz-se necessário que suplantemos a expansão instintiva, pela adoção da força de retorno ao Anjo místico de nosso Eu Vital. Já nos caberia buscar o pensamento mais sutil, este pensamento-sentimento da inspiração alada e poética.

2 – Sabemos que o “anjo é terrível”, como diz o poeta Rilke; O anjo é terrível para o Ativismo… “Anjo Terrível” foi Jesus. Tão terrível que até os religiosos, em geral, tudo fizeram para mudar a realidade dos seus ensinamentos. Jesus possui contornos de pensador libertário, inativista autêntico, cuja Verdade manifestada talhou-se de Beleza, para expressar o secreto pensamento: “Não acumuleis para vós tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam.” – A existência, voltada somente para interesses “sobre a terra”, ou superficiais, de nada aproveita à felicidade do ser humano. Tanto assim que acrescenta: “Mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corroem, e onde ladrões não escavam nem roubam.”

3 – Os “tesouros do céu” equivalem à região íntima, relativa à vida introspectiva; somente são perduráveis os tesouros do Sentimento e da Inteligência. Como se não bastasse, ele complementa, dizendo: “Porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” Imagem literária que se transforma no símbolo do coração como o mais íntimo lugar onde deve estar nossa cogitação, livre de inúteis esforços no campo da exterioridade.

OS OLHOS

 1 – O Cristo nos conduz à perfeita Inação Criadora – e nós podemos despertá-la, de dentro para fora, na senda mística da inatividade contemplativa: “São os olhos a lâmpada do corpo; se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso.”

2 – A lâmpada da visão é a Inteligência, ou a força da Energia que acende nossos pensamentos. Nosso estado psíquico e físico depende, portanto, do que criamos mentalmente. Tanto isso é verdade que ele aponta o oposto à criatividade luminosa, dirigida por nossa Autoconsciência: “Se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão.”

3 – O autêntico psicólogo nos mostra quanto depende nosso bem-estar do teor de imagens que alimentamos por nós mesmos. Apresenta-nos Jesus a necessidade de libertação interior de todo tipo de pensamentos e critérios que não permitem o uso livre da energia mental e criadora. Surpreendentemente nos mostra que a luz, a força mental que há em nós pode apagar se não a deixarmos acesa, fazendo-se em claridade pelo cultivo livre de nossas faculdades interiores.

4 – Somos o produto direto – luminoso ou sombrio – de nossos pensamentos. Mais importante é a maneira como encaramos as coisas e os fatos por nossa visão íntima e subjetiva. Quantos e quantos seres apagam sua luz interior pelo excesso dos desejos, ou acendem inutilmente velas nas alamedas exteriores da vaidade! Importante mesmo é não sermos o acréscimo de transtorno na valorização dos tesouros e das aparências da sociedade ativista, agitada exteriormente, mas apagada em seu íntimo, sem luz, sem Amor. Daí nascem a treva e o ódio, pelo excesso de ação. É preferível amar em segredo do que odiar abertamente.

OS DOIS SENHORES

1 – O sentido da Inação Criadora, como vemos, está mesclado luminosamente ao pensamento de Jesus, no todo de sua filosofia. Por exemplo: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.” – Se dermos a Deus a acepção de vida interior e intuitiva, daremos às riquezas o sentido de exterioridade instintiva. Inteligentemente Jesus, no trecho acima, não diz qual o caminho que devemos escolher. Permite-nos deduzir, por nós mesmos, que os dois caminhos, interior e exterior, motivam atração aos seres, segundo suas naturais tendências. Seria mesmo absurdo admitirmos que um pensador, pleno de liberdade interior, não nos deixasse a livre escolha de jornada.

2 – Para os passos da filosofia inativista, não há maior riqueza que Inação Criadora. Dentro de nós o universo toma a amplidão do Cosmos. O Homem, acordado pelo ruído do mundo, possui o limitado universo de seus parcos sentidos físicos e exíguas sensações, delineadas pela imposição dos hábitos e das posses justificadas pela sociedade. Possuímos o que criamos. Daí a riqueza interior ter as dimensões dilatáveis do Sonho – maneira de sermos eternos e infinitos, mesmo ainda presos ao mecanismo do corpo.

AS VESTES DO CORPO

1 – Com se tivesse ouvido a voz íntima do nosso sonho de plena liberdade, Jesus, carinhosamente, nos fala: “Por isso vos digo; não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer, ou beber; nem pelo vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que as vestes?” A paralisação da ansiedade é, de fato, o ponto essencial que antecede ao desprendimento. Em consequência, teríamos: 1º – o desligamento mental do instinto; 2º – a ausência do desejo; 3º – a morte da ansiedade; 4º – o desprendimento; 5º – a concentração; 6º – a pacificação; 7º – a Inação Criadora; 8º – a Râja-Yoga, ou ligação integral com o Eu. – Tendo atingido estes estados gradativamente conquistados, nada mais nos turbaria, porque descobriríamos valores mais sutis em nossa Autoconsciência. Segundo a exposição do Mestre, inversamente, teríamos a certeza de que: a) as vestes valem menos que o corpo; b) o alimento vale menos que a Vida.

2 – O filósofo nazareno empresta à Vida o sentido que damos ao Eu Vital; sendo este ligado à Fonte do Eterno, não precisamos nos preocupar ou ficar ansiosos pela nossa Vida. A Certeza no Mestre nos fará admitir que todo esforço exterior não modificará o desígnio dos fatos. Ele nos pergunta: “Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso de sua vida?”

3 – Se meditarmos, chegaremos à conclusão de seu pensamento, sempre voltado para uma Determinação Superior. Jesus atingia o ponto ideal do Pensamento, pelo estabelecimento de um Poder Determinista – Deus – e de um Livre-Arbítrio, relativo ao Homem. Sabia que este pequeno Livre-Arbítrio, meio de acendermos a chama, se transformaria em Determinismo, na medida em que deixássemos de ser corpo para sermos espírito, ou sermos menos Matéria e mais Energia. Diminuição da Ação Instintiva e ampliação da Inação Intuitiva.